domingo, 18 de janeiro de 2009

O Aborto


Sozinha,
as mãos dela sustentavam forte o ventre, 
os joelhos curvavam-se como quisessem tocar em seus seios,
silenciava os gritos para que ninguém a ouvisse,
sua face quase que perfeitamente afilada foi se deformando em traços tristes em meio a tanto dor,
seus lábios carnudos secavam, os olhos negros fechavam-se com força, os cabelos afastados da vaidade se assanhavam cada vez mais, e  o suor que parecia interminável.
Após árduos minutos, viu-se esvaindo em sangue, permaneceu emudecida em meio a agonia e a despedida de seu filho.
Quatro paredes nuas foi onde sem saber ela arrancou de si o melhor o que pode ter.
Desde então ela partiu, não levou malas afinal nada era necessário, o único peso foi a consciência, a que atormentou por muitos anos, há quem diga que a mulher já senhora com marcas visíveis da idade em seu rosto havia enlouquecido, costumavam dizer que ela ouvia alguém dizer:
" mamãe" 
mais quando olhavam não era ninguém, ela replicava:
É sim, é o menino dos olhos negros.

Um comentário:

Carla Marinho disse...

dificil e duro, amiga. Marcas, verdadeiras marcas que não saem com sabão ou operações. Marcas de alma, que ficam impregnadas enquanto continuar respirando.
espero nunca ter que passar por isso.